
Caro leitor eu o convido a uma viagem. Arrume suas malas então porque a viagem é grande (dependendo dos olhos de quem lê) e o destino é o longínquo ano de 2000. Sim, a nossa viagem não tem como destino um “onde” e sim um “quando”. É hora de desafiar seu professor de Física e voltar no tempo, para uma das mais históricas partidas do futebol inglês na história recente.
Vamos então entrar no cenário. Era a virada do milênio, já no segundo semestre do ano então toda aquela história de “bug do milênio”, “fim do mundo” ou todos os mitos sobre a virada do ano de 1999 para 2000 já tinham sido ridicularizados e desmentidos. O campeão da Premier League daquela edição foi (para variar) o Manchester United, dominando a competição e sendo campeão com 18 pontos a mais que o vice campeão Arsenal. Os Red Devils tinham como destaque naquela época ícones como David Beckham, Ryan Giggs, Paul Scholes e Dwight Yorke, artilheiro do time na campanha com 20 tentos.
E para chegarmos em definitivo ao nosso destino, vamos desembarcar no ainda antigo Wembley. Pois então, essa é a despedida do maior palco do futebol inglês, lugar onde foi conquistado o único título mundial do English Team, palco de tantas glórias e tantos fatos históricos para o futebol. Wembley estava se despedindo. Mas não era um “adeus”, para a nossa felicidade. Um estádio dessa grandeza não pode se despedir para sempre, mas pode se atualizar, se reformar, como era necessário. Então essa despedida foi um “até breve” apenas, para a alegria do fã mais fanático.
Os Deuses do Futebol tinham escolhido aquele que seria aparentemente o jogo perfeito para tal cargo. A reprise da final de 66, Inglaterra x Alemanha, era tudo perfeito, afinal as manchetes deviam já estar sendo feitas para aquele jogo que era válido pela segunda rodada das eliminatórias da Copa de 2002. Algo como “Revanche? Não para Beckham” e em baixo algumas linhas exaltando a atuação do galã do futebol, o astro do United, passeando sobre uma Alemanha que não devia ter tanto destaque assim nos noticiários e se recebesse seria algo citando o lendário Rudi Völler que treinava a Nationalef.
Mas esse esporte não perdoa.
E por isso que não tem como não se apaixonar por futebol. Voltando um pouco mais no tempo, apenas para dar uma visitada a final da Copa que acontecera no mesmo estádio 34 anos antes, claramente se via que o gol de Geoff Hurst (diga-se de passagem, o segundo dos seus três) foi ilegal e a bola não havia passado da linha do gol. A ferida alemã não havia se fechado e a vingança viria em duas partes.
A segunda parte foi em 2010, num chute de Frank Lampard em que a bola dessa vez entrou claramente após bater no travessão, algo que a arbitragem não viu e o gol não foi validado. A primeira aconteceu no dia 07/10/2000, o lugar escolhido para a nossa viagem.
Mas enfim, vamos parar de enrolação e vamos ao jogo, afinal eu não sou o João Kléber para segurar atenção de vocês por tanto tempo.
Os times entraram no sagrado gramado do estádio com as seguintes escalações: a Inglaterra teve David Seaman, Gary Neville, Martin Keown, Tony Adams e Graeme Le Seaux; Gareth Southgate, Paul Scholes, David Beckham, Nick Barmby; Michael Owen e Andy Cole. Kevin Keegan era o treinador inglês. Já os alemães do já citado treinador Völler, jogaram com Oliver Kahn, Marko Rehmer, Thomas Linke, Jens Nowotny; Sebastian Deisler, Carsten Ramelow, Michael Ballack, Dietmar Hamann, Marco Bode; Mehmet Scholl e Oliver Bierhoff. Um detalhe interessante é que o English Team escolheu usar o uniforme vermelho para o confronto, mesma cor usada na conquista do seu único título mundial.
Com o início da partida, as fragilidades do time de Keegan foram expostas. Seu nome já era posto em xeque por parte da nação inglesa depois de uma pífia campanha na Eurocopa do mesmo ano, tendo sido eliminados num grupo com Portugal e Romênia classificados (sim, Romênia). Curiosamente, o outro time do grupo era a própria Alemanha e o duelo entre dois dos protagonistas desse texto acabou com vitória da Inglaterra por 1 a 0, gol de Alan Shearer.
Logo aos 13 minutos, o gol do jogo saiu. E o mais triste de tudo isso era o seguinte: o último gol do Wembley não foi inglês. O camisa 10 Dietmar Hamann, que jogava no Liverpool, com certeza fez alguns Reds um pouco mais tristes. Em cobrança de falta de longe, que Seaman não demonstrava muita preocupação, afinal havia apenas um homem na barreira... Ele falhou. A cobrança saiu rasteira, mas com força. Força suficiente para que o arqueiro do Arsenal não conseguisse fazer a defesa e acabasse aceitando o chute.
O jogo continuou e os Three Lions queriam mudar essa história. Oliver Kahn não queria. Um dos maiores goleiros da história do futebol alemão, melhor jogador da Copa de 2002 e ainda por cima estraga prazeres, não permitiu o empate em tentativas de Andy Cole, Tony Adams e nem mesmo uma cobrança de falta de David Beckham permitiu que o placar fosse alterado. Não era pra ser.
Seaman até tentou se redimir após salvar uma finalização de Mehmet Scholl aos sete minutos do segundo tempo, mas não era o suficiente. O cabeludo e bigodudo goleiro que até outrora era considerado o último dos grandes goleiros ingleses (para os que contestam Joe Hart, continua nesse posto), havia acabado de entrar para a história.
Independentemente do resultado final, da vontade de dar o adeus fazendo o que sempre se teve lá, ou seja, vitórias da Inglaterra e euforia britânica, era oficial, o Wembley estava se despedindo, fazendo com que todos os torcedores que passaram por lá assistissem um pequeno filme que se passava em suas cabeças. Os últimos suspiros de futebol do antigo Wembley, as últimas gotas de suor de jogadores históricos, as últimas palavras e o último apito de um juiz. Parabéns, senhor Stefano Braschi, o senhor foi o último juiz desse estádio histórico.
Mas não deu para o English Team.
Ao final da partida, sabia-se que não importando o resultado, aquele jogo havia entrado para a história. Keegan não resistiu e foi demitido. Howard Wilkinson, treinador do time sub-21, foi escolhido como o interino até Sven Goran-Eriksson ser anunciado no começo do ano de 2001 e tratou de se vingar no segundo turno das eliminatórias da Copa, num sonoro 5 a 1 em plena Munique. Nas próximas semanas, o BritFoot History acompanhará a Era Eriksson, o primeiro treinador estrangeiro do English Team. Ambos os times se classificaram para a Copa, empatados com 17 pontos, mas o English Team se classificou em primeiro. Na Copa, ambos os times foram derrotados pela seleção brasileira. A Inglaterra nas quartas e a Alemanha na final. O Wembley Stadium, de tantas glórias, tantas partidas históricas, tantas emoções, lágrimas de felicidade e tristeza foi fechado no mesmo ano e demolido em 2003. Sua reinauguração foi em 2007, num amistoso com a seleção brasileira. Como não poderia deixar de ser, foi sofrido também. Graças a um gol de Diego, a vitória que viria com um gol de John Terry escapou pelas mãos.
Mas vale a pena ressaltar o seguinte: ninguém vai apagar a história desse estádio. O que foi feito nele e o que está sendo feito após sua reforma estará para sempre na história, na cabeça de quem viveu e nos corações de quem apoiou seu time em finais lá jogadas ou no coração de quem acreditou na vitória dos Three Lions em todas as partidas.






